quinta-feira, junho 05, 2008

Um Partido Para Todos

Sempre olhei para a política como uma forma de intervir numa sociedade em constante mudança, capitalizando sinergias e esforços comuns de forma a corrigir assimetrias, encontrar pontos de equilíbrio na diversidade de opiniões e na riqueza das vivências e experiências pessoais.

Acredito na multiplicidade de contributos e sempre olhei para o Partido Socialista como o único partido de esquerda em Portugal respeitador dessas mesmas multiplicidades. E quero crer que as diferentes origens dos meus camaradas constituem uma riqueza evidente para a elaboração de políticas nas mais variadas vertentes capazes de proporcionar crescentes níveis de bem-estar.

Isto vem a propósito do recente comício de algumas esquerdas, que apenas teve algum impacto pela presença de Manuel Alegre, dos mais destacados militantes e com lugar cativo na história do PS. Seria redutor para o próprio falar da sua importância para o nosso partido e para Portugal num texto tão curto como este. Ainda hoje facilmente me emociono ao ouvir a sua voz num disco do saudoso Carlos Paredes em que participa a proclamar poesia, não consigo imaginar o impacto da sua voz antes do 25 Abril para um país oprimido e amordaçado.

Mas nos últimos tempos, não posso compartilhar determinados estados de espírito. O facto de Manuel Alegre ter desempenhado todo o tipo de funções dentro do PS, ficando por concretizar o de Secretário-Geral (em que, aí sim, e mais uma vez, contribuiu para o confronto de ideias aberto e construtivo) não devia dar o direito a todo o tipo de acções, nem que seja por alguma lealdade política a uma instituição que também lhe deu algo, não sendo portanto uma relação de sentido único.

Não concordei com a sua candidatura a PR à margem do Partido, e definitivamente não concordei com esta incursão por uma actividade organizada pelo Bloco de Esquerda e por comunistas divergentes. O Partido Socialista tem espaços de intervenção com diversidade mais do que suficientes para um militante com a qualidade de Manuel Alegre intervir e fazer-se ouvir (e basta ir a um comício onde intervenha para constatar como os socialistas gostam de o ouvir), e até agora, esses locais não têm sido escolhidos, em detrimento de outros onde imperam os soundbytes propagandísticos, à falta de propostas alternativas concretas.

Não tenho capacidades cognitivas que me permitam adivinhar o futuro. Espero que Manuel Alegre não nos deixe, e que continue a fazer o seu papel determinante na democracia portuguesa, mas dentro do Partido. A sua liberdade, como sempre, o decidirá.

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