terça-feira, janeiro 08, 2008

Comentário do dia

Comentário do Dia – 08 de Janeiro de 2008 www.lisboa.ps.pt

Uma questão de valores

As recentes notícias sobre indícios de corrupção na Câmara Municipal de Lisboa, detectados pela Procuradoria-Geral da República fazem ressaltar, uma vez mais, a facilidade com que alguns portugueses, com um grau de cultura acima da média, se disponibilizam para aliciar e serem aliciados.

O que fará um cidadão culto, tido como honesto, deixar-se encantar e vender, invariavelmente barato, um bem para alguns de nós tão valioso como a honra?

Acaso se encontram em situação de necessidade extrema? Aparentemente, possuem tanto ou mais do que milhares de trabalhadores que honestamente limitam os gastos às normais disponibilidades financeiras.

Alguém, um dia, terá sugerido aos potenciais corruptos que só se vive bem, só se tem estatuto e lugar socialmente destacado se se tiver muito dinheiro - independentemente da origem, que ninguém controla – e puder deslumbrar no mínimo os amigos, exibindo poder para alcançar mais poder.

E estes argumentos, na sociedade de consumo irracional que vivemos, têm efeito.

Obter tudo, a qualquer preço! É a máxima social vigente.

Que lógica será esta, tão tentadora no sul da Europa e, segundo as mais diversas estatísticas, quase totalmente ignorada a norte?

Acontece que nos primeiros anos de escolaridade são ministrados às crianças nórdicas e contextualizados pela história, literatura e ciências sociais, valores éticos fundamentais como a Honestidade, a Integridade ou Respeito Pelo Semelhante.

Por cá, o jovem apenas recebe como pilares de formação, valores associados à pátria, religião e família enaltecendo subliminarmente a guerra, o aventureirismo, a intriga, a obediência, o conformismo e uma solidariedade restrita ao agregado familiar.

Os valores socialmente úteis são esquecidos, logo o jovem não cria anti-corpos éticos capazes de defender um futuro moralmente digno e permanece permeável à quebra de valores sociais determinantes nas sociedades contemporâneas.

Consequências, entre outras: xenofobia, corrupção, egoísmo e ausência de cidadania.

Será importante o esforço do actual Governo no redimensionamento do parque escolar.

Mas muito mais importante, com menores custos sociais e económicos e maior compensação futura, será a alteração do paradigma de formação da criança, preparando-a como elemento socialmente activo, solidário, íntegro e fraterno.

De pouco servirá remediar o presente se não acautelarmos o futuro. E essa é a principal esperança que qualquer cidadão tem em quem o governa.

Enquanto os valores de moral social não obtiverem primazia na formação dos jovens, para além de outros inconvenientes, continuaremos na próxima geração a verificar inúmeros casos de corrupção, obras com muitos trabalhos a mais e uma administração pública de fazer inveja às suas mais requintadas congéneres africanas.

Macieira Antunes

Secção A. S. do Ambiente


1 comentário:

Pedro Cardoso disse...

Excelente reflexão!