Está novamente na ordem do dia questionar os grandes investimentos públicos na agenda do Governo, com o argumento (desta vez) da crise financeira que assola o mundo. E continua-se a confundir alhos com bugalhos, pois a crise é global, sim , mas em Portugal, até à data, teve uma influência quase nula na sua génese, a actividade bancária e respectivos produtos de investimento. A banca portuguesa, na sua generalidade, tem uma fraca exposição aos activos ameaçados pelo crédito subprime, bem como têm vindo a realizar aumentos de capital sucessivos por forma a aumentar os seus rácios de solvabilidade, em sintonia com o exigido pelas instâncias europeias, nomadamente os acordos de Basileia.
Vamos a factos: nas últimas décadas, o investimento tem sido determinante para o crescimento económico e para contrariar os efeitos de crises, estagnações e recessões. Sempre que se avança com projectos de grande envergadura, com fundos provenientes do Orçamento de Estado ou da União Europeia, gera automaticamente a criação de emprego, investimentos privados associados e aceleração da economia. O investimento público e o PIB aumentam em sintonia, foi assim com os Governos, primeiro de Cavaco Silva e depois de António Guterres, com máximos de 6,4% de investimento público, respectivamente em 1985 e em 1997 (em vésperas da Expo 98, que também na altura muitos questionaram a propósito do seu sucesso, lembram-se?)
Avancemos um pouco: porque razão deveria o Estado deixar para a iniciativa privada a realização de investimentos que se caracterizam por rendimentos crescentes á escala? E neste caso podemos incluir infra-estruturas (estradas, portos, aeroportos) que, em alguns casos, tendem para uma posição de monopólio, deixando à inteira disposição dos privados o estabelecimento dos preços pelo respectivo usufruto, sem qualquer contrapartida financeira para o Estado. Quando a Direita (e individualidades nacionais com algum crédito) se opõem ao investimento público, quem é que estão a defender? Por razões históricas, como facilmente se constata, não são os interesses do povo português certamente.